O recommerce (ou comércio de revenda) é a venda de produtos de segunda mão, tanto em canais físicos quanto online.
Os últimos anos têm sido turbulentos para o varejo. Existe a ameaça de uma recessão iminente. Consumidores conscientes sobre os impactos ambientais da produção desenfreada das indústrias estão questionando o desperdício das empresas de fast fashion e até dos dispositivos eletrônicos.
Esses fatores estão abrindo caminho para que os varejistas implementem o recommerce: comprar de volta produtos antigos e dar-lhes uma nova vida, ou usar o modelo de consignação. É uma relação vantajosa: os clientes obtêm produtos de qualidade pelo preço reduzido, enquanto os varejistas conseguem gerar receita sem aumentar a produção.
Até 2030, espera-se que a indústria de recommerce tenha um valor de 84 bilhões de dólares, quase o dobro do valor das fast fashion. Vamos analisar mais de perto por que essa mudança está acontecendo e como sua loja pode começar a aproveitar as vantagens dos programas de recommerce.
O que é recommerce?
O recommerce geralmente acontece por meio de programas de recompra da própria marca, venda consignada em brechós e similares, recondicionamento ou troca.
As iniciativas permitem que os clientes devolvam ou vendam seus produtos usados em troca de dinheiro ou crédito na loja. Os varejistas, utilizam ou recondicionam os itens e fazem a revenda, em loja física ou online, a um preço reduzido.
Qual é o tamanho do mercado de recommerce?
O mundo está mudando, e a forma como os consumidores compram também. Com 46% dos brasileiros preocupados com o compromisso social e ambiental dos varejistas, o mercado está reformulando seus modelos de negócios para melhorar tanto o planeta quanto suas margens de lucro.
Durante anos, a indústria da moda em especial enfrentou críticas por suas práticas prejudiciais ao clima. Considere estes dados:
- Uma nova peça de roupa consome 292 litros de água e gera 7,7 kg de CO2 equivalente.
- Mais de 100 bilhões de peças de vestuário são produzidas a cada ano, e 73% de todas as roupas acabam em aterros ou são incineradas.
- Comprar um item usado reduz sua pegada de carbono, desperdício e água em 82%.
Estudos mostram que 272 milhões de pessoas compram ou vendem produtos de segunda mão. Em relatório da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), 33% dos brasileiros adquiriram algum item usado pela internet nos últimos 12 meses à pesquisa
Como resultado, o mercado de recommerce e revenda está crescendo a uma taxa 11 vezes mais rápida do que o mercado varejista em geral — um número que deve dobrar nos próximos cinco anos.

Os benefícios do recommerce
Além do volume do mercado, aqui estão algumas razões pelas quais as empresas de varejo estão se envolvendo com a revenda de produtos pelo recommerce.
- Converter compradores sensíveis a preços. Muitos consumidores estão reduzindo seus gastos. Além disso, para marcas premium, vender produtos usados é uma forma de converter mais consumidores sensíveis a preços. Uma vez que eles experimentam o item, torna-se mais fácil convertê-los em consumidores dispostos a pagar o preço cheio do produto novo.
- Economia de custos e controle de preços. Em vez de fabricar o mesmo produto várias vezes para clientes individuais, revenda o mesmo item para várias pessoas. Isso encurta sua cadeia de suprimentos enquanto maximiza a receita gerada por cada item.
- Sustentabilidade. Para enfrentar o problema do desperdício, muitas iniciativas de sustentabilidade nos negócios se concentram em avançar em direção a uma economia circular, que enfatiza o recondicionamento de produtos e a reciclagem de materiais existentes pelo maior tempo possível.
- Consumo consciente. À medida que se torna mais fácil vender roupas online, as pessoas estão se desfazendo de suas roupas antigas e reinvestindo o dinheiro em itens usados mais atuais. Plataformas como Trocafone e Enjoei abriram caminho para a popularidade do recommerce, tornando a compra e venda de itens usados mais cool entre os consumidores.
- Estimular a retenção. Uma vez que os consumidores estão na loja, especialmente os clientes recorrentes, é mais provável que tomem a decisão de compra com menos barreiras. Os clientes também tendem a comprar mais sabendo que seus produtos têm valor de revenda.
“Acho que ainda não liberamos a criatividade [para o recommerce]. O campo está aberto,” diz Monica Park, co-fundadora do grupo de moda circular Eleven Radius.
“Os vencedores, a longo prazo, terão um foco muito claro, quase obsessivo, na experiência do cliente e na busca pelos incentivos certos para realmente recompensar e mudar seus hábitos. Isso virá de pessoas dentro das marcas que realmente entendem e se importam com os clientes que compram seus produtos pela primeira vez.”
Como funciona o recommerce?
Tipos de recommerce
Existem três tipos principais de recommerce, e um extra em forma de consignado. Conheça cada um deles, com um exemplo de quando pode ser utilizado.
- Recompra. Um programa de recompra incentiva as pessoas a devolverem seus itens em troca do reembolso de uma porcentagem do preço de venda. Se alguém devolver um carregador de celular de R$ 150, por exemplo, o varejista poderia oferecer um crédito de R$ 15 para ser utilizado na próxima compra.
- Ofertas de troca. Incentiva os clientes a trazerem produtos usados oferecendo um acordo de troca. A Apple é um exemplo de recommerce. Em suas lojas, os clientes podem devolver dispositivos usados em troca de crédito para novos.
- Reciclagem e recondicionamento. O Boticário é um ótimo exemplo de recommerce na forma de reciclagem, os frascos vazios são coletados e usados para construir as lojas sustentáveis e objetos de decoração de espaços físicos da marca. O Trocafone faz o recondicionamento de celulares, comprando-os dos consumidores e vendendo por um preço mais acessível no e-commerce.
- Consignado. Faz a intermediação da venda dos itens de segunda mão e fica com uma porcentagem da venda. A Gringa é um recommerce de luxo que recebe os produtos e os avalia para vender no site a uma taxa que varia entre 20% e 30% da venda.
Alguns varejistas combinam programas de recommerce com incentivos para os clientes. Veja o exemplo da Allbirds. Sua parceria com a Trove permite que o varejista ofereça crédito na loja em troca da devolução dos sapatos Allbirds usados. Os itens usados são então revendidos online na plataforma ReRun.
Essa iniciativa faz parte de um esforço mais amplo em torno do Allbirds Flight Plan, um forte compromisso em manter uma economia de moda sustentável.

Quem compra produtos de recommerce?
Dados da Thredup mostram que os consumidores da geração millennial e da geração Z são os mais propensos a comprar roupas de segunda mão. A disposição para comprar produtos de recommerce parece diminuir com a idade — apenas 16% dos boomers com mais de 56 anos estão abertos a comprar roupas usadas.
Isso é parte do motivo pelo qual o recommerce está em ascensão. As gerações mais jovens têm maior poder de compra; estima-se que os consumidores da geração Z realizem um total de 358 transações por ano, cada uma com uma média de R$ 300 por transação. Os boomers, por outro lado, gastam R$ 300,38 em apenas 202 transações.

“Decidi comprar muitos dos meus presentes de Natal para amigos e familiares este ano em lojas de segunda mão, tanto físicas quanto online,” diz Maggie Vlasaty, associada de contas da One Simple Plan.
“Já fiz isso no passado, mas sempre faço questão de comprar em lojas de recommerce, independentemente da ocasião. São pequenas compras como essas que podem realmente fazer a diferença a longo prazo, tanto ambiental quanto emocionalmente.”
Quais itens você pode vender como recommerce?
Os melhores itens para sua loja de recommerce são produtos que não são perecíveis e que mantêm um bom valor de revenda. Isso inclui:
- Roupas e vestuário, especialmente roupas de bebê, que rapidamente ficam pequenas.
- Antiguidades e colecionáveis, incluindo moedas antigas, selos ou joias.
- Eletrônicos usados, como PCs antigos, consoles de vídeo ou smartphones.
- Produtos para o lar, incluindo móveis, utensílios de cozinha ou eletrodomésticos.
- Artigos esportivos, como camisetas de futebol, bicicletas ou máquinas de exercício.
Grace Baena, diretora de marca da Kaiyo, diz: “Recentemente, comprei um Macbook Air recondicionado pela Apple depois que o Macbook novo que comprei há anos finalmente precisou ser substituído.”
“Tenho experiência pessoal com a durabilidade dos laptops Mac, então me senti confortável comprando um usado para aproveitar o preço mais baixo, especialmente considerando que até mesmo os laptops recondicionados vêm com uma garantia opcional.”
O jeans, em particular, pode ser usado até se desmanchar, pois é um tecido resistente e feito para se desgastar e adquirir aquele ar de marcas de vida.
Liz Hershfield, SVP, Chefe de Sustentabilidade do J.Crew Group & SVP de Sourcing da Madewell

Dicas para incluir recommerce na sua loja
- Confirme quais produtos podem ser revendidos
- Tenha critérios rigorosos de controle de qualidade
- Eduque os clientes sobre o valor dos produtos reciclados
- Realize “feiras” de itens usados
- Anuncie em marketplaces de recommerce
Confirme quais produtos podem ser revendidos
Dependendo do seu setor, nem todos os produtos em sua loja de varejo serão elegíveis para recommerce. Itens que não podem ser revendidos incluem:
- Produtos de cuidados com a pele ou maquiagem
- Produtos de higiene, como itens sanitários ou roupas íntimas
- Itens perecíveis, como alimentos e bebidas
(Embora esses itens não possam ser revendidos, você pode implementar um programa para reciclar embalagens usadas, especialmente se forem feitas de plástico, vidro ou papel.)
Os melhores itens para revenda são produtos que mantêm valor residual. É por isso que marcas de designer frequentemente têm um programa de revenda. As pessoas ainda aspiram ao status social associado a marcas de luxo, então estão dispostas a gastar centenas ou milhares em uma bolsa de segunda mão. Elas adquirem o mesmo produto de qualidade a um preço mais baixo.
Tenha critérios rigorosos de controle de qualidade
Apenas porque os consumidores estão dando uma nova vida a produtos antigos, não significa que estejam dispostos a sacrificar muito em termos de qualidade. Estabeleça expectativas claras sobre como os produtos recondicionados funcionarão, utilizando uma escala de classificação.
Se você estiver vendendo eletrônicos recondicionados, por exemplo, sua escala de classificação pode ser tão simples quanto:
- Excelente: Como novo.
- Ótimo: Totalmente funcional, mas com arranhões leves.
- Bom: Partes mais desgastadas e/ou algo que não funciona.
Veja o exemplo da lululemon. A marca de athleisure opera um programa de revenda Like New em todas as lojas do país. Seja online ou em qualquer loja nos EUA, os clientes podem trocar seus produtos lululemon usados por um cartão-presente online que varia de US$ 5 a US$ 25, dependendo do item.
Os produtos são então revendidos pela lululemon em sua plataforma Like New por quase 50% do preço de varejo. Qualquer item que não atenda aos padrões de qualidade pré-determinados é reciclado através da Debrand.
O programa de revenda da lululemon reduzirá a pegada de carbono de seus produtos em até 50%, e todos os lucros serão direcionados para sua Agenda de Impacto. Até 2030, a lululemon se compromete a fabricar 100% de seus produtos com materiais sustentáveis.
Eduque os clientes sobre o valor dos produtos reciclados
Embora a sustentabilidade desempenhe um papel importante em muitas decisões de compra, alguns consumidores ainda podem não estar cientes do impacto que suas compras têm sobre o meio ambiente. Eduque essas pessoas com mensagens de marketing que destaquem o valor do recommerce.
Considere a marca de cuidados com a pele orgânica Meow Meow Tweet, por exemplo. Como parte de seu programa único de reabastecimento Bulk Aisle, o varejista incentiva seus clientes a comprar em grande quantidade após a primeira compra.
Ao reabastecer o frasco de vidro da primeira compra, comprar em grande quantidade reduz a quantidade de embalagem plástica necessária para novos pedidos e economiza dinheiro para os clientes. Todas as compras de refil são entregues em frascos de alumínio leves e vêm com frete grátis como um incentivo adicional.
Para educar os clientes sobre as vantagens de comprar refil, a Meow Meow Tweet detalha a matemática do Bulk Aisle que resulta na economia de 255 frascos de aterros sanitários e uma economia de US$ 1.575 ao longo de 30 anos.

Realize “feiras” de itens usados
Vendas de garagem, bazares e feiras não são coisas do passado. Esse tipo de evento chega aos grandes centros e em pacatos bairros para tornar mais acessível a compra de produtos de segunda mão por um preço mais acessível.
Use esse formato ao introduzir o recommerce em sua loja de varejo. Participe de uma feira e utilize técnicas de marketing de loja pop-up para atrair a comunidade local para sua loja. Esses eventos podem atrair pessoas que, de outra forma, achariam seus produtos muito caros.
Um líder em sustentabilidade no varejo, a REI tem vendido equipamentos usados desde 2017. Embora todos os consumidores possam comprar itens de segunda mão, a opção de troca está disponível apenas para membros da REI Co-op. Funciona da mesma forma que um programa padrão: troque seu equipamento usado em troca de um cartão-presente da REI.
A REI também testou lojas pop-up, vendendo apenas equipamentos usados como uma expansão de suas famosas Vendas de Garagem Exclusivas para Membros.
Anuncie em marketplaces de recommerce
Marketplaces de recommerce conectam compradores e vendedores de produtos de segunda mão. Junto com suas lojas físicas, liste itens de segunda mão nesses marketplaces online para atrair compradores locais:
O melhor de tudo? Você pode usar esses marketplaces de segunda mão para direcionar o tráfego para sua loja virtual. Ofereça a opção de comprar online e retirar na loja para os compradores do marketplace. Uma vez que eles estejam em sua loja, tenha um vendedor para estimulá-los a comprar mais produtos.
Comprei alguns itens para casa no Facebook Marketplace – algumas cadeiras, uma cômoda e uma mesa de café. Adoro usar o Facebook Marketplace para esses tipos de itens porque é uma ótima maneira de economizar dinheiro enquanto ainda obtenho peças de alta qualidade.
Trevor Sookraj, CEO da Divisional
Incorpore o recommerce em sua loja
Você pode não estar em posição de lançar um programa de recompra, troca ou reciclagem agora, e está tudo certo. O importante é que você esteja pensando em como participar da economia circular que está em um movimento crescente.
Conversar com seus clientes e perguntar se eles estariam interessados em um programa de recommerce — onde eles têm acesso aos mesmos produtos de qualidade por um preço menor. Você pode abrir a porta para um novo mercado, aumentando sua receita enquanto se torna mais sustentável.
Perguntas frequentes sobre recomerce
Qual é o significado de recommerce?
Recommerce significa simplesmente vender bens que anteriormente pertenciam a outra pessoa. Também conhecido como programa de revenda, alguns varejistas compram de volta itens que já venderam e os revitalizam para vender novamente, ou reciclam as embalagens.
Como posso iniciar um negócio de recommerce?
- Escolha um produto de segunda mão para vender
- Defina um preço competitivo para seu produto
- Liste-o para venda em um marketplace de revenda
- Abra uma loja online e/ou física
- Divulgue os produtos
O recommerce é sustentável?
O recommerce é mais sustentável do que o varejo tradicional porque o mesmo item não precisa ser fabricado várias vezes - o que poupa água, eletricidade e emissão de carbono no ar. Além disso, quando itens usados são revendidos, sua vida útil se prolonga e o descarte em aterros é reduzido. Tudo isso faz parte da economia circular.
Por que o recommerce é popular?
O recommerce está se tornando cada vez mais popular porque os clientes podem garantir produtos de alta qualidade por um preço mais acessível, prolongando a vida útil do produto e realizando um consumo mais consciente para a diminuição do impacto ambiental. As empresas estão aproveitando o renascimento do recommerce e se beneficiando de processos de fabricação mais sustentáveis também.