Em 2007, Toni Carey começou a correr. Sua mãe lhe disse que esse era um “esporte de brancos” e que seu útero cairia. Mas isso não a deteve. Ela era uma mulher movida por uma estatística alarmante: mais de 80% das mulheres negras dos Estados Unidos são consideradas acima do peso ou obesas.
Nove anos mais tarde, Toni e sua amiga da universidade Ashley Hicks-Rocha lideraram um movimento crescente de mulheres pelos Estados Unidos que pretendiam reverter as estatísticas e mudar suas vidas através da corrida. A Black Girls RUN! conta com mais de 150.000 filiadas e organiza mais de 70 grupos de corrida pelos Estados Unidos. A empresa vem desfrutando um fluxo contínuo de cobertura da imprensa, até mesmo chegando a chamar a atenção da apresentadora Oprah.
Através da loja online, elas financiaram seu sonho de influenciar as taxas de obesidade norte-americanas, vendendo mercadorias da Black Girls RUN! às mulheres que se orgulham de representar a comunidade que mudou suas vidas.
Da direita à esquerda: Ashley Hicks-Rocha e Toni Carey
Aquecimento
Toni e Ashley se conheceram na faculdade, onde Toni, uma preguiçosa assumida, observou sua amiga adotar a prática da corrida após a graduação. Ela ficou incrédula.
“O quê? Correr? Eu disse: ‘Negros não correm’. Mas podia ver que ela estava mudando fisicamente – pois nós duas ganhamos bastante peso depois dos estudos – e mentalmente, além disso. Eu a observei por cerca de um ano enquanto essa transformação acontecia. Então, também decidi começar.”
Durante o primeiro ano correndo juntas, as mulheres perceberam que não apenas eram as únicas mulheres negras a participar de grupos de corrida e de corridas de rua, como também eram as únicas pessoas de cor. Ponto.
“Eu me lembro de ir até um grupo de corrida com Ashley. Quando chegamos, ninguém falou com a gente. Eles mal nos indicaram o trajeto. Acho que alguém chegou a perguntar se estávamos no lugar certo. Foi algo estranho, parecido com a série Além da Imaginação (Twilight Zone). Pensamos: “Isso está realmente acontecendo?”
O isolamento que elas sentiram em um esporte o qual amavam, juntamente a um histórico de diabetes e outros problemas de saúde em ambas as suas famílias, inspirou Toni e Ashley a compartilhar sua história.
Em 2009, com o nome Black Girls RUN!, elas começaram um blog que contava suas experiências. Convenientemente, ambas haviam estudado comunicação e RP. Elas utilizaram seus contatos e conhecimento de redes sociais para encontrar público e obter alcance.
“No blog, nós dizíamos: ‘Pessoal, venham para Atlanta e participem desta corrida com a gente’. As pessoas surgiram de todas as partes do país. Ficamos completamente abismadas, pois pensávamos que somente nossas mães liam o blog, mas todos saíram daquele encontro realmente desejando um grupo de corrida em suas cidades.”
As pessoas surgiram de todas as partes do país. Ficamos completamente abismadas, pois pensávamos que somente nossas mães liam o blog.
Através do blog, elas alcançaram mulheres pelo país inteiro, recrutando embaixadoras regionais e um exército de voluntárias para ajudar a divulgar o prazer de correr e a confiança para começar. Elas começaram a sediar corridas em Atlanta, e conectaram mulheres para correr juntas em eventos pelos Estados Unidos.
Neste ano, a Black Girls RUN! sediará seu 4º evento anual Sweat With Your Sole – uma conferência e corrida de 5K/10K com mais de 4.000 participantes. Atividades, aulas e bate-papos com mais de 20 palestrantes – incluindo a treinadora de celebridades Jeanette Jenkins – focarão na promoção da saúde e do bem-estar físico à comunidade.
“Quando decidimos inaugurar os grupos de corrida, vimos uma oportunidade de começar a ganhar dinheiro com o negócio. Ele acabou viralizando. Foi aí que começamos a ampliar a produção das nossas mercadorias, forma pela qual realmente conseguimos sustentar a organização por todo este tempo.”
Em 2011, Toni e Ashley abriram um e-commerce de venda de camisetas estampadas com a frase “Black Girls RUN!”. Insatisfeitas com os modelos de algumas empresas de impressão online, e após uma desastrada tentativa de fabricação, elas optaram por trabalhar com uma gráfica local e um armazém de processamento em Atlanta. O apoio à comunidade local foi outra causa pela qual elas nutriam grande simpatia.
“Em um momento, decidimos que queríamos produzir na China. Uma tiragem de camisetas ficou extremamente justa. Era muito difícil colocá-la em mim. Depois, uma outra tiragem de camisetas também não tinha bom caimento. Foram milhares de dólares desperdiçados. Essa foi nossa incursão no mundo da fabricação.”
Elas vendiam suas camisetas e uma coleção cada vez maior de produtos através de um e-commerce simples, fora do blog, antes de mudar para o Shopify há pouco mais de um ano – combinando o blog (importado do WordPress) e a loja em um único site.
Como o Shopify é essencialmente uma plataforma de e-commerce, Toni e Ashley trabalharam com um desenvolvedor para garantir que a mensagem e o movimento continuassem exibidos em destaque no website, suportados por um carrinho de compras mais robusto. A mudança permitiu que elas automatizassem uma parte muito maior do marketing através dos Apps da Shopify.
A Black Girls RUN! é parcialmente sustentada por meio de patrocínios e eventos próprios, mas, principalmente, através da venda de mercadorias – 90% da receita é obtida da comercialização de camisetas, acessórios e downloads de playlists digitais. O sucesso da loja permitiu que ambas as mulheres abrissem mãos de seus empregos e entrassem de cabeça no negócio (e na causa) por tempo integral.
Em um verdadeiro espírito empreendedor, Toni me disse que sempre busca outros projetos e fontes de renda.
“A BGR é definitivamente apenas uma parte da equação. Acho que, para todo empreendedor, a diversão está no aspecto da criação. Quando chega a hora de fazer o trabalho, ficamos meio para baixo. Estamos tentando levar a Black Girls RUN! para um lugar em que ela possa andar com as próprias pernas de forma sustentável, pois certamente queremos que continue existindo por muitos anos. Porém, também estamos analisando onde podemos expandi-la um pouco além. Pessoalmente, acabei me tornando tão enraizada nessa comunidade fitness/atividades externas/vida saudável que sempre estou buscando maneiras de criar uma marca pessoal e também de gerar dinheiro com ela. Eu definitivamente tenho outras cartas na manga!”
Acho que, para todo empreendedor, a diversão está no aspecto da criação. Quando chega a hora de fazer o trabalho, ficamos meio para baixo.
Após ser demitida em 2008, no começo da carreira, ela decidiu nunca mais depender de apenas uma fonte de renda. Ela vem observando essa tendência em outras pessoas dos seus círculos – uma geração de mulheres experientes explorando o empreendedorismo como forma de reação a uma economia volátil.
“Existe um pouco mais de senso de segurança em termos de controlar seu destino. Minha mãe também é empreendedora, por isso, também já a vi criar negócios, e ela sempre fez algo em paralelo para gerar renda.”
Mulheres Negras Administram Negócios
Embora a epidemia de obesidade entre mulheres negras seja desanimadora, outra estatística pinta um quadro muito mais otimista. Empresas de propriedade de mulheres afro-americanas nos Estados Unidos cresceram 322% entre 1997 e 2015. Em comparação com o número geral de empresas administradas por mulheres, que cresceu 74% no mesmo período, as mulheres negras são o grupo empreendedor que mais cresce nos Estados Unidos.
Em todos os lugares estão surgindo fontes de financiamento, programas educativos e recursos dedicados especificamente a ajudar mulheres negras norte-americanas a começar com a administração de pequenos negócios.
Em Atlanta, cidade com uma das maiores populações de negros nos Estados Unidos, Toni e Ashley fazem parte de uma comunidade forte.
“Quando você vira um empreendedor, imediatamente passa a fazer parte deste clube secreto – outros empreendedores apenas se juntam a você. Atlanta definitivamente possui muitos grandes líderes em termos de startups e empreendedorismo, especialmente na área de tecnologia. Possuo muitos amigos que são empreendedores.”
A Black Girls RUN! afirma que seu crescimento se deve ao boca a boca popular – principalmente através da rede de embaixadoras voluntárias e Grupos de Facebook específicos das cidades. A publicidade no Facebook, naturalmente, vem sendo o principal vetor de tráfego pago e vendas. “Sinceramente, não sei onde a Black Girls RUN! estaria sem o Facebook”, ela afirma.
Grupo da Black Girls RUN! em Columbus, Ohio
As mulheres têm ficado impressionadas com o apoio recebido e com a forma pela qual a ideia começou a se espalhar por essas redes impulsionadas pela comunidade, ganhando vida própria.
“Acho que, caso eu tivesse um arrependimento, ele seria o fato de que provavelmente crescemos muito rápido. Sempre digo aos empreendedores para pensarem na escalabilidade e no que isso pode representar para as empresas deles, certificando-se de que não expandam sua infraestrutura de forma muito rápida – o que certamente fizemos. Pergunte-se: qual sua estratégia de saída? Você talvez não queira fazer isso para o resto da vida, portanto, como será essa estratégia?”
Pergunte-se: qual sua estratégia de saída? Você talvez não queira fazer isso para o resto da vida, portanto, como será essa estratégia?
No momento, conforme o crescimento do negócio tem ocorrido por conta própria, Toni e Ashley vêm focando em se afastar e encontrar formas para ajudar a fazer com que ele prospere sozinho.
“Através das mercadorias, estamos tentando encontrar uma maneira de otimizar o negócio, mais do que ele já está otimizado. Eu assisto ao programa ‘O Sócio’, apresentado por Marcus Lemonis. Aprendi que, quanto mais mãos tocar, mais caro ficará. Estamos realmente tentando encontrar alguém que possa fazer tudo isso para nós, para que possamos nos tornar residuais, ou seja, deixar de trabalhar tanto nisso.”
Conquistando Avanços
A adesão de 150.000 mulheres por todo os Estados Unidos é suficiente para provar que a Black Girls RUN! causou impacto, mas avaliar o sucesso tem sido um desafio, afirma Toni. Ela gostaria de afirmar que causou um abalo nos números de obesidade nos Estados Unidos. Atualmente, a BGR está em busca de um parceiro que as ajude a obter dados das afiliadas, provavelmente através de algum dispositivo que possa ser utilizado no corpo.
Enquanto isso, o movimento crescente e os feedbacks empíricos têm sido suficientes para manter a empresa no rumo. Ela compartilhou comigo algumas das muitas histórias de sucesso.
“Uma mulher perdeu cerca de 40 quilos apenas por se juntar a nós e começar a correr. Aquilo transformou completamente sua vida, e agora ela pratica atletismo. Uma outra, a qual, para mim, foi um pouco mais relevante, era uma mulher que me reconheceu certa vez em um restaurante. Ela informou que se mudou da Flórida para Atlanta porque sua filha teve câncer. Ela disse: ‘A Black Girls RUN! foi a única coisa que me fez aguentar os tratamentos do câncer da minha filha’. No final, a garota faleceu. Isso provavelmente será a pior coisa a acontecer na vida dessa mulher, e ela atribuir sua firmeza durante aquele período à Black Girls RUN! foi algo muito poderoso.”
Embora as fundadoras tenham se concentrado apenas nas mulheres negras norte-americanas, perceberam um efeito cascata em outros grupos. Elas descobriram, conversando com outras participantes, que as mulheres mudaram os hábitos de todos os seus familiares, influenciando a saúde dos filhos delas através de seus próprios exemplos. As mulheres fecharam parcerias com outras organizações, como a Girls on the Run, para levar sua mensagem a garotas jovens e associar suas afiliadas como modelos a ser seguidos.
Toni também percebeu uma grande mudança desde que começou a correr. A diversidade nos grupos de corrida e nas raças se expandiu e incluiu pessoas de todas as formas, tamanhos e cores. Mais notavelmente, ela vem observando cada vez mais mulheres participarem do esporte.
“Nós também observamos a ascensão de equipes de corrida realmente bacanas. Há uma equipe de corrida chamada Black Roses, em Nova York, que se parece com uma gangue de corrida. Eles são muito legais. Eu sempre digo que nós não inventamos os grupos de corrida – apenas adicionamos nossa pitada exclusiva a eles. Esse é meu conselho às pessoas que querem se tornar empreendedores: você não precisa de um conceito original. Basta adicionar seu toque único, e aí está seu produto.”
Você não precisa de um conceito original. Basta adicionar seu toque único, e aí está seu produto.
Estrelato
Ashley e Toni fundaram a Black Girls RUN! como meio de compartilhar suas próprias jornadas de corrida, visando oferecer uma inspiração saudável a outras mulheres. O subproduto inesperado do seu sucesso é que elas também acabaram se tornando modelos de empreendedorismo para outras mulheres negras norte-americanas.
As mulheres foram indicadas pela The Root e ficaram entre as 30 Blogueiras Negras Que Você Deve Conhecer, além de ser inclusas à lista 35 Abaixo de 35: Mulheres Negras Jovens e Incríveis, da Essence Magazine. Em 2014, elas receberam o Standing O-Vation Award, da Toyota, em uma premiação apresentada pela Oprah.
Foto: Atlanta Daily World
As duas aprenderam bastante nos sete anos de negócio. Embora tenham alcançado enorme sucesso, essa jornada não deixou de incluir algumas lições duras. Que conselho ela oferece aos aspirantes a empreendedores? “É incrível, além de lhe oferecer algumas liberdades”, ela me conta. “Porém, sou muito sincera com as pessoas. É difícil. Muito difícil”.
A parte mais desafiadora, talvez, tem sido conduzir o relacionamento delas como sócias. Elas resolveram isso ao definir funções bastante específicas na empresa.
“Ashley diz que esse é nosso bebê, e que nós somos como um casal. E é verdade. Essa tem sido a parte mais difícil de conduzir na administração do negócio, principalmente porque tudo começou como uma simples amizade.”
Elas também batalharam para encontrar os parceiros certos que apoiassem e compreendessem sua visão.
“Estive em reuniões com grandes empresas esportivas, e elas diziam: ‘Vocês realmente precisam mudar de nome, porque ele não é inclusivo. Que tal apenas chamá-la de Girls Run?’ Eu me lembro de estar nessa reunião e pensar: ‘Isso não pode estar acontecendo de verdade’. Nós ouvimos de tudo.”
Porém, agora, o sucesso delas vem atraindo interesse por parcerias a partir de marcas alinhadas com seus objetivos e com sua mensagem. Toni também fica contente em me dizer que a visão dela finalmente é apoiada pela pessoa mais importante de todas, e que já chegou a ser uma das maiores céticas sobre sua paixão por corrida: sua mãe.
“Estou aparecendo em artigos, e ela tem comprado todas as revistas quando elas saem, mas não creio que tenha realmente percebido o impacto até comparecer a um dos nossos eventos e ver aquelas mulheres e todo o entusiasmo. Ela falou: ‘Caramba. Você fez algo realmente incrível’. Isso me lembra de uma vez quando Michelle Obama estava sendo entrevistada, e o repórter perguntou: ‘Como você se sente com a questão de Sasha e Malia serem influenciadoras?’ Michelle disse: ‘Elas não são influenciadoras. Elas não fizeram nada. Elas apenas estão aqui’. Acredito que minha mãe pense isso sobre mim, agora. Sabe? ‘Ela é apenas a Toni’.”
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Sobre a autora
Dayna Winter é storyteller no Shopify. Ela segue mais cães que pessoas no Instagram, e não é ruiva natural.
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