O termo “nômade digital” parece ser a profissão dos sonhos por excelência: viajar o mundo apenas com um laptop debaixo do braço e o básico para viver, fazendo seu próprio horário em cafés ou à beira da praia, visitando um destino atrás do outro e riscando inúmeros países da sua lista de lugares para visitar antes de morrer.
No entanto, para variar, essa realidade foi romantizada.
“Nômade digital” não é uma profissão, mas uma escolha de estilo de vida: uma opção hoje disponível para muitas pessoas graças a uma tendência que está mudando a forma como equilibramos vida profissional e vida pessoal: o trabalho remoto.
Os mesmos avanços tecnológicos e as atitudes perante o trabalho e a vida que permitem que funcionários e empresários trabalhem de casa também estão dando oportunidade para que uma nova geração de viajantes apaixonados trabalhe de qualquer lugar do mundo que ofereça conexão wi-fi.
Quem é o nômade digital?
O nômade digital é a pessoa que escolhe adotar o trabalho remoto como um estilo de vida, usando a tecnologia para se sustentar com o grau de mobilidade que lhe for conveniente.
Os nômades digitais usam o trabalho remoto para financiar e realizar o sonho de conhecer o mundo.
Não há pré-requisitos de tempo de permanência ou número de países visitados para você ser considerado um nômade digital. Basta escolher ser um trabalhador ou empreendedor remoto cuja fonte de renda não exige moradia fixa em um só lugar.
É válido ressaltar que essa é uma escolha que se tornou mais fácil de ser feita graças às mudanças na forma como trabalhamos.
A reformulação do expediente tradicional
A jornada de trabalho de oito horas diárias remonta a época em que otimização de resultados era sinônimo de equilíbrio entre trabalho manual e vida pessoal, sendo obrigatório bater ponto ao chegar e sair da empresa.
Com a ascensão do “trabalho intelectual” (cargos em que os funcionários contribuem com seu próprio raciocínio e conhecimento que detêm sobre determinado assunto), um expediente rigoroso não faz mais tanto sentido se você pode responder e-mails de casa no final de semana ou se você se sente mais criativo para trabalhar à noite.
Na verdade, estudos apontam que a opção de trabalhar remotamente não só aumenta a satisfação dos funcionários, mas também a sua produtividade.
A transformação radical do conceito de trabalho pela tecnologia
Graças à inovação tecnológica dos últimos 20 anos, o laptop e o armazenamento em nuvem oferecem todas as ferramentas de que precisamos para trabalhar melhor tanto independente quanto colaborativamente.
A tecnologia fez com que fosse possível trabalhar a grandes distâncias, premissa que de fato torna o nomadismo digital viável. Todo o resto depende da sua escolha de como ganhar dinheiro.
Dicas de quem já é nômade digital
De acordo com Martina Russo, uma tradutora apaixonada por viajar com quem conversei sobre seu estilo de vida nômade, a pergunta certa a se fazer não é “como posso me tornar um nômade digital?”, mas sim:
“Eu sou bom em quais atividades? O que eu gosto de fazer? O que as pessoas precisam? Posso trabalhar viajando através da internet, para que eu consiga sustentar o meu estilo de vida?”
Não existe um conjunto de habilidades específicas para ser um nômade digital. Basta ser bom no que você faz e ser capaz de vender o seu trabalho, produtos ou serviços pela internet.
Os três requisitos para fazer a transição para o nomadismo digital são:
- Um fluxo de renda (ou mais que um) que seja 100% sustentável remotamente.
- Um laptop e uma boa conexão de internet onde quer que você pretenda trabalhar viajando.
- Dominar os conceitos de finanças pessoais e de gestão de fluxo de caixa para viver de acordo com a sua renda.
Martina mantém seu estilo de vida nômade (com residência fixa em Milão, Itália, e destinos de pouso temporário nas Ilhas Galápagos, no Camboja, no Equador e em outras partes do mundo) como tradutora freelancer de inglês, alemão e espanhol para o italiano e o italiano-suíço.
Ela afirma que não planejou se tornar uma nômade digital. Entretanto, ao se formar em Tradução, Martina transformou a profissão em um negócio freelance passível de ser totalmente administrado online — coisa que ela gosta de fazer de lugares diferentes.
Martina também tem uma loja de e-commerce chamada Freelancer At Work, que vende adesivos para outros profissionais remotos mostrarem o que fazem para o mundo.
A ideia desse negócio secundário surgiu quando ela estava na Croácia, trabalhando em um café. As pessoas costumavam olhar para ela com curiosidade, querendo entender o que ela estava fazendo ali. Assim, ela criou o adesivo “translator at work” (tradutor em ação) e o colou em seu laptop, dando o seguinte recado: “Eu não estava ali simplesmente usando e abusando da internet do café para assistir Netflix. Eu estava ali para trabalhar.”
Sua ideia de produto foi bem recebida por outros profissionais remotos (copywriters, revisores, desenvolvedores) de sua rede que viram o adesivo, e ela decidiu transformar esse “recado” aos curiosos em um e-commerce. Martina ainda fez questão de fechar uma parceria com um fornecedor de confiança para atender aos pedidos remotamente.
De certa forma, a loja virtual Freelancer At Work reflete a crença de sua dona de que “nômade digital” não é uma profissão, mas a decisão de abraçar o trabalho remoto de modo não convencional.
Outra profissional autônoma que mergulhou nessa experiência nômade foi Carolina Walliter, tradutora, intérprete e escritora nascida e criada no Rio de Janeiro. Em 2014, ela embarcou de mala e cuia para morar em Buenos Aires, na Argentina, durante três meses: “Descobri o nomadismo digital junto com o conceito de coworking, e fiquei obcecada com a ideia de poder viajar o mundo trabalhando na minha área em espaços criativos.”
A tradutora brasileira ainda revelou os critérios que nortearam sua decisão:
“Escolhi o meu destino porteño por três motivos: proximidade geográfica com a minha cidade natal, moeda e curiosidade cultural. A princípio, eu queria testar se conseguiria, de fato, viver como nômade digital, logo, optei por não ir para muito longe de casa – afinal, um voo Rio/Buenos Aires às vezes dura menos que o tempo que se leva para cruzar a Cidade Maravilhosa na hora do rush!
“À época, o real estava mais valorizado em relação ao peso argentino, oferecendo mais segurança financeira para que eu embarcasse nessa aventura. Por fim, como historiadora de formação, quis realizar o sonho de viver em uma capital latino-americana de alta relevância histórica. Além de aproveitar o fervo cultural da cidade, ter alugado um quarto pelo Airbnb na casa de um casal argentino elevou a minha estadia no país para outro nível de envolvimento: ganhei uma família porteña!”
Carolina ainda explica outra estratégia interessante que usou enquanto morava na Argentina:
“Buenos Aires era o meu ‘QG’. De lá, eu partia para cidades vizinhas, como La Plata e Tigre. Também aproveitei e fui para o Uruguai duas vezes, para visitar uma amiga (também tradutora!) e para participar da primeira edição do TEDx em Colonia del Sacramento. Sendo escritora, é claro que eu registrei toda essa aventura latina nas redes e no meu blog, o Pronoia Tradutória.”
Por enquanto já sabemos que os tradutores podem muito bem ser nômades digitais, mas quais são as outras carreiras propícias para viver esse estilo de vida?
As melhores profissões para nômades digitais
O único pré-requisito para adotar um estilo de vida nômade é poder trabalhar viajando 100% remotamente do seu laptop e celular para bancar suas andanças pelo mundo.
E existem mais profissões que preenchem essa exigência do que você poderia imaginar.
Muitos especialistas da Shopify também trabalham remotamente como desenvolvedores, designers e profissionais de marketing para lojistas, ajudando-os a construir suas lojas virtuais e a cultivar o seu negócio.
Dono de e-commerce
Os empresários de e-commerce muitas vezes conseguem ter a liberdade de trabalhar viajando porque buscam resolver uma etapa fundamental que toda loja online tem e que poderia “prender” um negócio a um local fixo: frete e fulfillment.
Muitos superam esse obstáculo com o dropshipping. Outros (como Martina) encontram um fornecedor confiável para enviar os pedidos aos clientes. Outros ainda esbanjam criatividade com produtos digitais que dispensam inventário físico.
Com uma solução dessas implementadas, esses empreendedores podem gerir o resto do próprio negócio, (do marketing até o atendimento ao cliente) enquanto estão na estrada, terceirizando funções à medida que crescem para ter mais tempo livre.
Escritor, revisor e tradutor
Quase qualquer trabalho que envolve escrita pode ser feito remotamente. Criar conteúdo, editar livros, entrevistar alguém para um artigo ou redigir um texto publicitário para um site, tudo isso pode ser feito sem que você precise estar na mesma sala que o seu cliente.
Para exercer essas funções, basta encontrar um empregador favorável ao esquema de trabalho remoto ou criar seu próprio negócio e marca como uma agência ou profissional autônomo.
Desenvolvedor ou designer
São algumas das profissões mais procuradas em plataformas de oferta de trabalho remoto. Você pode até criar seus próprios produtos e transformá-los em uma fonte de renda.
Profissional de marketing
Praticamente todas as ferramentas de que um profissional de marketing precisa podem ser acessadas de seu laptop. E já que a maior parte do material de marketing digital é mensurável, os clientes e empregadores conseguem facilmente manter esses profissionais responsáveis pelo marketing de seus negócios mesmo quando eles estão trabalhando do outro lado do mundo.
Atendimento ao cliente
As profissões de atendimento ao cliente foram umas das primeiras a entrar na onda do trabalho remoto, já que todas podem ser executadas por telefone, e-mail ou chat.
O serviço de atendimento também é perfeito para o modo remoto porque as empresas precisam de equipes espalhadas pelo mundo inteiro para oferecer atendimento 24 horas.
Na verdade, muitos dos Gurus da Shopify, nossa equipe de atendimento ao lojista, trabalham remotamente (e estamos contratando!).
Profissões inusitadas
Os exemplos acima são candidatos óbvios para o trabalho remoto. Porém, cada vez mais profissões estão adotando a tecnologia como uma forma de interagir com os clientes sem a necessidade de estar no mesmo local físico que eles. Existem até carreiras novas sendo criadas especialmente para o trabalho remoto, como a função de assistente virtual em tempo integral.
“Há pessoas trabalhando com coisas que sequer imaginava serem possíveis de ser realizadas remotamente, como educadores físicos, psicólogos, entre tantas outras profissões [estabelecidas] que eu jamais pensei que poderiam ser exercidas online. Além disso, os clientes estão cada vez mais abertos a aceitar esse modo de trabalho”, revela Martina.
Os melhores lugares para um nômade digital trabalhar
Naturalmente, alguns países serão mais adequados ao seu estilo de vida e renda como nômade digital do que outros.
De acordo com o Nomad List, uma comunidade online e banco de dados sobre cidades para nômades digitais, as cinco melhores cidades para trabalhar remotamente, com base no feedback dos próprios nômades, são:
Mas o mundo é um lugar muito maior do que essa lista e cada cidade tem suas próprias peculiaridades e custo de vida.
O Nomad List também reúne comentários de sua rede de nômades digitais, que avaliam as cidades seguindo uma lista extensa de fatores que você sequer cogitou considerar, desde diferenças culturais acerca da liberdade de expressão e como habitantes amigáveis tratam os estrangeiros, até informações sobre acesso a serviços de carona. Essa avaliação minuciosa informa até quanto custa uma xícara de café em determinado lugar e qual o melhor espaço de coworking da região.
Não deixe de conferir o Nomad List se você está pensando em trabalhar fora do país. A plataforma é um recurso valioso para trabalhadores remotos e empresários viajantes, para que saibam onde eles estão se aventurando antes de decidir seu próximo destino.
Quais são as desvantagens do nomadismo digital?
Nem tudo são flores (ou aventuras) na vida de um nômade digital, principalmente se você está acostumado a ir trabalhar em um escritório por oito horas ou com o conforto do seu home office.
“No começo, é bem difícil. Você precisa ficar esperto e encontrar maneiras de garantir um fluxo de renda mínimo todo mês. Uma das melhores e mais eficientes formas de fazer isso é criar fontes de renda passiva”, explica Martina.
Se você é um empresário independente ou freelancer como ela, não subestime a importância da geração de uma renda com a qual você pode contar com meses de antecedência. Além disso, se for possível, busque diversificar as fontes de renda para que a sua subsistência não dependa de um cliente só. Às vezes, o inesperado acontece e você fica sem poder trabalhar por muito tempo, e a situação fica ainda mais difícil se você não guardou dinheiro para os períodos de vacas magras.
“Não guarde todos os seus ovos em uma cesta. Já passei por momentos difíceis em que fiquei sem trabalhar por seis meses. Quando você é freelancer, ter um plano B é fundamental. É imprescindível poupar [dinheiro]. Eu não tinha esse hábito até aprender na pele o quanto isso é importante quando você tem o seu próprio negócio”, revela Martina.
Também fique atento às diferenças de fuso que podem obrigá-lo a trabalhar em horários inusitados para atender clientes e prazos. Portanto, leve o fuso horário em consideração ao planejar onde você quer passar os próximos meses ou mais como nômade digital.
Carolina acrescenta que também é importante levar em consideração a(s) moeda(s) em que você ganha dinheiro e a moeda em que você vai viver no seu destino nômade: “Antes de bater o martelo sobre Buenos Aires, namorei a ideia de ir para Edimburgo, cidade que já visitei e gostaria de passar uma temporada mais longa. Porém, em 2014, a maior parte da minha cartela de clientes ainda era composta por brasileiros, logo, não quis arriscar contaminar a minha aventura com preocupações, ganhando em real para viver em libras esterlinas.”
A tradutora brasileira ainda faz um alerta para quem está cogitando ser nômade digital: “O deslumbre com esse estilo de vida é perigoso: além de ter um recorte socioeconômico evidente, que inviabiliza a prática para a pesada maioria da população brasileira, essa coisa de viajar e trabalhar me rendeu três anos seguidos sem férias. É mais difícil “sair do trabalho” quando você o carrega nas costas para todos os lugares.”
Em outras palavras, por mais ousado que pareça, é necessário ter todo esse cuidado quando você abre mão de uma estrutura mais tradicional de trabalho em prol da liberdade.
Trabalhar do sofá de casa ou de qualquer outro país
O nomadismo digital é uma oportunidade incrível que tem tudo para se tornar mais comum à medida que a tecnologia evoluir, dando mais condições para esse estilo de vida, e conforme as pessoas desconstruírem a noção de que trabalho só pode ser feito no escritório.
A mesma mudança na forma como trabalhamos, e que nos permite fazê-lo do sofá de casa, também deixa que os apaixonados por viagens não precisem mais escolher entre trabalhar e viajar; você pode fazer os dois ao mesmo tempo!
Se você adora viajar e está cansado de esperar as férias chegarem para conhecer o mundo, talvez seja interessante averiguar como você pode passar a trabalhar remotamente, para que viajar deixe de ser uma fuga e se transforme no seu estilo de vida.
Sobre a autora
Carolina Walliter é escritora, tradutora, intérprete de conferências e editora-chefe do blog da Shopify em português do Brasil.
Post original em inglês: Braveen Kumar
Tradução, localização e insights pessoais: Carolina Walliter
Imagens grátis: Burst
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